quarta-feira, 13 de maio de 2015

Resposta de um Educador ao Editorial da Gazeta do Povo de 10/05/2015


Pensei muito sobre responder ou não o editorial que a Gazeta do Povo publicou no último domingo, no qual afirmou de maneira leviana que “Ao ter cruzado os braços sem pauta definida, sindicato desafia a Justiça e coloca ambições políticas à frente do bom senso e do direito dos alunos”, e cheguei a conclusão de que por mais pretensiosa que possa ser minha intenção de responder o maior conglomerado de comunicação do estado, sendo apenas um “réles” educador, essa resposta é mais que necessária.



Eu poderia me focar apenas em ressaltar que essa mudança abrupta na linha editorial não é surpreendente, pois todo o movimento dos servidores  e as denúncias contra o governo Beto Richa (PSDB) foram muito interessantes para o Grupo RPC, pois desde de 2013, quando Richa concretizou acordo político com Ratinho Junior (PSC), e dono da Rede Massa de Comunicação, o Grupo RPC perdeu espaço no governo, chegando o governador abrir publicamente uma guerra de acusações contra o jornal Gazeta do Povo.
Poderia lembrar também, que a mudança na linha editorial veio na semana em que, após o Massacre de 29 de Abril, o governo gastou, segundo o líder do governo Romanelli (PMDB), R$2.700.000,00 (dois milhões e setecentos mil reais) em campanhas de publicidade para tentar reverter o desgaste de sua imagem perante a população (são mais de 80% de desaprovação). E deste montante, cerca de R$1.200.000,00 apenas com o Grupo RPC. Belo pedido de desculpas não?
Tais fatos só servem para deixar claro o caráter da mídia brasileira, que está sempre servindo aos interesses das elites econômicas do pais, e que mesmo quando aparentemente estão alinhados a uma causa popular, é porque de alguma maneira esta causa lhe é útil. Além de serem dados extremamente interessantes para o debate sobre democratização da mídia.
Mas gostaria de centrar essa minha resposta em desmascarar as mentiras apresentadas no editorial, que deixam claro que para defender seus os interesses econômicos, os grupos midiáticos não se preocupam nem com a verdade.
Primeiro quanto à frase do sub titulo que afirma que a greve não tem pauta definida, só deixa claro a má fé do editorial, nossa pauta de greve foi definida em assembleia da categoria, na Cidade de Londrina, e reafirmada na última assembleia em Curitiba, onde mais de 15000 educadores e educadores, votaram pela continuidade da greve. Em momento algum a greve foi só pela previdência, apesar deste ser o item central.
Quanto a desafiar a justiça, tal afirmação poderia ser considerada um argumento se fosse feita por alguém que não tem conhecimento algum dos trâmites do judiciário, o que acredito não ser o caso dos editores da Gazeta do Povo, o governo conseguiu uma limiar contra a greve, e nós entramos com recurso, enquanto o recurso não for julgado em última instância, não existe posição oficial da justiça.
Ainda sobre o poder judiciário, o editorial alega que não cumprimos o acordo firmado perante a justiça no fim da última greve, e que o governo vem cumprindo sua parte, o que chega a ser cômico. Este documento assinado com o aval de um desembargador, previa a abertura de turmas e cursos que haviam sido fechados, previa a não redução de funcionários e professores nas escolas, entre outros pontos não cumpridos, esse desrespeito ao acordo por parte do governo em momento algum é citado, aliás nem a posição omissa do judiciário é questionado pelo editorial, porque será?
Ainda neste acordo, com o aval do judiciário, estava previsto um AMPLO debate sobre a questão da previdência antes que o projeto fosse reenviado a Assembléia Legislativa, em momento algum houve este debate,  e o editorial afirma, de maneira mentirosa,  que houve o debate e nossa propostas não eram viáveis e que o governo não é obrigado aceitar nossas posições.  A afirmação de que houve debate pode ser desmentida pela própria Gazeta do Povo através de reportagem publicada em 19/03/15. (http://goo.gl/JkztKP)
Gostaria de lembra-los, também, que o data-base não é um pretexto como de maneira irresponsável o editorial da Gazeta do Povo afirma, a reposição da inflação é lei, é uma obrigação do Governo do Estado e deve ser cumprida, não deveria haver discussão quanto a isto. 
E sobre os tais 60% de aumento, argumento mentiroso do governo repetido pelo jornal, gostaria de ressaltar que este índice é baseado nas reposições da inflação, que não é um aumento real, e na equiparação dos professores com os demais servidores que possuem a mesma titulação e carga horária, o que de fato ainda não ocorreu. E ainda que nossa categoria não é composta só de professores, os funcionários de escola foram os mais prejudicados nos últimos anos, receberam reposições abaixo da inflação e tem visto a cada ano que passa o valor real do seus salários diminuírem, a luta por uma educação de qualidade passa pela valorização de todos os trabalhadores da educação, e os funcionários de escola são constantemente colocados em uma invisibilidade pela sociedade, pelo governo e também por veículos de imprensa como os do Grupo RPC.
O papel da do Grupo RPC e da Gazeta do Povo, neste momento de mudança de opinião de acordo com seus interesses, é muito importante para deixar claro para todos nós, trabalhadores e trabalhadoras, que nesta luta só temos um aliado, a classe trabalhadora, e somos apenas nós, através da nossa luta e organização é que podemos derrotar este governo, o legislativo, o judiciário e o quarto poder que é a grande mídia.

Vinicius Prado
Agente Educacional II
Colégio Estadual Renné Amorim de Carvalho
Pontal do Paraná - PR


5 comentários:

  1. Parabéns ao professor que se dispôs a dar uma resposta à altura do que mereceu esse jornaleco vendido (não a preço de banana, mas de sangue). Essa atitude só fortalece os verdadeiros guerreiros desta infame história, nós educadores.

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    1. Obrigado Sonia, este é o único caminho que temos fortalecer nossa organização enquanto trabalhadores para enfrentar os ataques dos 4 poderes, executivo, legislativo, judiciário e a Mídia.

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  2. Parabéns Vinícius pela resposta. Me orgulho de pertencer a mesma categoria de trabalho e me orgulho mais ainda de ter votado em você nas últimas eleições, pois sei o quanto é importante ter pessoas como você nos representando. Estamos juntos amigo.

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    1. Obrigaod Ellen vamos juntos construir a resistência contra todos que nos atacam...

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  3. Parabéns Vinícius! Me orgulho de pertencer a mesma classe trabalhadora, me orgulho também de ter votado em você nas últimas eleições, porque são pessoas como você que nos representa.

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